Domingo, 27 de março de 2011.
“Lápis, caderno, chiclete, pião
Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor
Gritaria, jardim, confusão
Bola, pelúcia, merenda, crayon
Banho de rio, banho de mar, pula-cela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia
Pirata, baleia, manteiga no pão
Giz, merthiolate, band-aid, sabão
Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão
Pega-pega, papel, papelão
Criança não trabalha, criança dá trabalho
Criança não trabalha…
1,2 feijão com arroz,
3, 4 feijão no prato
5, 6 tudo outra vez…
Criança Não Trabalha
(Arnaldo Antunes E Paulo Tatit)
A música acima fala sobre o universo infantil, resumindo-o em palavras que fazem bem parte do cotidiano de filhos e pais…
Engana-se quem pensa que o título deste post é sobre a Mirela; it’s about me! Sou eu que estou aprendendo a brincar…Explico…
Depois de virar adolescente e adulta, nunca fui muito ligada ao universo infantil, pois tive poucas crianças por perto. Então, era de se esperar, por exemplo, que eu morresse de dúvidas em uma loja de brinquedos para comprar presentes para algum aniversário de filhos de amigas…e olha que não fui a muitos… Mas tudo isso antes de Mirela nascer…
Quando soube que seria mãe, dentre todas as dúvidas que vinham na minha cabeça, uma delas era: como vai ser meu comportamento ao ter que interagir com uma criança, brincar, cantar, contar histórias…? Será que minha filha irá curtir estar ao meu lado? Será que saberei educá-la de forma divertida e participativa?
Pois bem…Daí o título do post: eu, literalmente, tenho aprendido a brincar.
Meu “treinamento” se iniciou quando minha pequena começou a receber presentes dos amigos que vinham nos visitar… Comecei a perceber que eu curtia muito mais quando ela ganhava brinquedos do que roupinhas ou acessórios. E sempre procurei cuidar e dar os brinquedos para ela nos momentos certos, na idade certa para serem usados. E curtia fazer isso.
Como preparação complementar, resolvi fazer lista de presentes para o aniversário de 1 ano de Mirela, com dois objetivos: um deles era facilitar a vida dos convidados que parecem sempre ter dúvidas sobre o que dar; o outro era me familiarizar com as lojas de brinquedos, preços e com os brinquedos em si. Foi uma experiência super bacana: escolhi duas lojas de brinquedos e uma livraria para fazer as listas. Passei uma tarde no shopping entre brinquedos e livros infantis, sentada no chão, escolhendo um a um o que eu imaginaria que seria bom para Mirela brincar, tendo em vista o desenvolvimento de 1 ano para frente (de 12 a 24 meses). E acho que acertei nas escolhas!
Abrimos os presentes no dia seguinte ao aniversário dela, e foi uma farra acompanhada pelos pais, avós e pela titia Aline. Mirela rasgou as embalagens e curtiu os mimos dos convidados. Mas a mamãe esperta aqui, ía logo selecionando o que era “pra agora” e o que era “pra depois”. Assim, alguns brinquedos foram para uso imediato e outros foram guardados no baú no quarto dela, para serem dados no momento oportuno – a ideia inicial era dar um a cada mês deste segundo ano de vida dela, mas confesso que já furei a regra e dei mais de 1 ao mês! rsrsrsrs Mesmo assim, o baú permanece cheio de brinquedos a serem inaugurados.
Quando me perguntam o que dar para Mirela, sempre respondo: brinquedo! Em oposição à maioria das mães, que prefere ganhar roupa para os filhos, tenho a minha teoria para explicar o meu pedido: roupa é artigo de necessidade básica, que os pais tem obrigação de comprar para os filhos; já brinquedo, você nunca vai dizer ” ai, vou na loja de brinquedos porque meu filho está precisando de um!”; brinquedo acaba sendo considerado supérfluo, ou ficando em segundo, terceiro plano, difícil de nós pais irmos lá e comprar. Assim, ganhando dos amigos, fica mais fácil de tê-los em casa, pois ganhou tá ganhado – eu jamais vou trocar um brinquedo recebido por uma roupa em uma loja!
E seguindo esta minha teoria, e ainda recebendo presentes de pessoas que não conseguiram ir na festinha de 1 ano, Mirela está bem servida de brinquedos. E nós, de opções para ajudar no seu desenvolvimento.
Mesmo não entendendo muito sobre o universo infantil antes de ser mãe, sempre achei que brincar com o filho é muito mais do que ficar na sala sentado no sofá vendo tv enquanto a criança brinca sozinha no chão, no meio de um monte de cacarecos desconexos. Sempre achei que brinquedos são muito mais do que peças coloridas que ficam jogadas pela casa para dar trabalho aos pais no final do dia. Para mim, brinquedos são ferramentas incríveis para estimular sentidos e o aprendizado, para interagir com o filho, para dar vida ao mundo que eles ainda estão conhecendo.
Eu adoro ver o rosto de Mirela quando ela gosta de um brinquedo. Ela curte, aproveita, mostra aos outros o que ganhou, toda orgulhosa. Mas fica ainda mais feliz quando descobre a sua utilidade, como usá-lo, ou ainda formas não convencionais de usar o brinquedo que acabou de ganhar e parecia ter um uso óbvio. E eu vou aprendendo com ela. Exploramos juntas as possibilidades, viramos de cabeça para baixo, mudamos cores, trocamos roupas dos bonecos, encaixamos peças onde não se imaginava encaixar, damos nomes aos bichos e bonecas, adoramos fantoches, dar voz a eles e fazê-los interagir conosco…
Quando digo que estou cuidando de Mirela, não me refiro apenas a trocar fralda, dar banho, dar comida, colocar para dormir. É nas horas em que não estamos fazendo nenhuma dessas coisas que o maior desenvolvimento de minha filha acontece, bem ao alcance dos meus olhos. E que eu faço questão de não perder nenhum detalhe…
Sou daquela mãe que senta no chão, se joga, anda descalça, sua, pula, canta, dança…e quer que as pessoas que cuidam dela façam o mesmo (que o digam o papai Ju e a vovó Ivanete). Não sou de ficar gritando “não” a toda hora, pois procuramos deixar ao alcance dela coisas que ela possa manusear, sem medo e com segurança e, é para isso, que sempre estamos por perto também – para protegê-la. E Mirela tem se mostrado uma criança muito obediente – um olhar já a faz desistir de um intento perigoso; um “não” nosso sempre é seguido de um “não” dela em concordância.
Ela tem liberdade para manusear seus livros, revistas, seus cds, dvds, mesmo que para explorá-los precise rasgar umas páginas ou quebrar as caixas. Mesmo as coisas rasgadas e quebradas, continuam sendo brinquedos úteis, pois eu sempre remendo, com prazer, alguma coisa que ela descosturou ou rasgou…Tem vários livrinhos faltando página, com páginas pela metade, mas estão aqui, prontos para serem reusados. Minha teoria: o que é dela, é dela…então, é direito dela fazer o que quiser, e faz parte do seu desenvolvimento explorar, exercitar seus sentidos e possibilidades. O que não é permitido é rasgar ou mexer nos livros cds e dvds da mamãe e do papai – e isso ela já entendeu.
Quando chega o fim do dia, eu e papai Ju como hoje temos uma divisão de tarefas: um de nós a coloca para dormir, enquanto o outro guarda seus brinquedos e dá comida para nossa cadelinha. Num dia como hoje, papai Ju está com ela no quarto e eu estou aqui escrevendo, mas logo vou guardar os brinquedos e cumprir minha missão noturna. Confesso que gosto disso, pois é um momento que aproveito para reiventar os brinquedos dela, colocá-los em lugares diferentes, esconder alguns para serem encontrados por ela no dia seguinte, ou escondê-los para que eles “reapareçam” depois de uns 15 dias… Ontem mesmo, enquanto ela e o pai dormiam, preparei a sala com o que chamei de “o jogo das cores” – peguei várias peças de brinquedos diferentes dela e os agrupei por cores, mesmo que em tonalidades diferentes. Assim, quando ela acordou hoje, encontrou a sala com vários cantinhos de coisas, cada um com uma cor predominando. O interessante é como ela se dirigiu logo para o cantinho azul, driblando o vermelho e o roxo; eu já tive algumas provas de que ela tem predileção pela cor azul. Pegou uma bola grande e uma estaquinha de madeira azul, ou seja, dois objetos totalmente diferentes, estimulando a sua percepção não só pela cor, mas pelo tamanho. Ai, eu adorei!
E tenho tido a preocupação de não deixá-la achar que brinquedos são apenas coisas compradas em loja: vez por outra estou inventando um brinquedo com um cacareco doméstico, que, em geral, ela acaba amando também. Dia desses, criei um “dado” imendando papelão com fita adesiva e escrevendo em cada face uma letra do nome dela. Uma garrafinha de água mineral vermelha em formato redondo virou um chocalho com alguns feijões dentro, uma calculadora velha e sem uso com números gigantes, virou peça para ela brincar e aprender os números…Enfim, com segurança, estou sempre imaginando em que isso ou aquilo pode se transformar.
E assim, vou criando coisas para Mirela brincar, e desta forma, eu mesma é que me divirto muito. Mais ainda quando percebo que tudo isso se reverte numa criança esperta, observadora, concentrada e, o melhor, feliz, muito feliz!
Aproveito para colocar fotos dos “cantinhos de brincar” de nossa menina, cuidadosamente pensados e criados por mim e pelo papai Ju. Espero que curtam as ideias!
1) Quem se lembra deste baú que tinha almofadões como parte do enxoval e que servia como um sofazinho? Pois é, ganhou nova utilidade: retirei as almofadas (que tem agora outra utilidade também), colocamos uma segunda prateleira mais baixa e agora o baú é um cantinho em que Mirela tem acesso a brinquedos e livros – estes sempre misturados com os brinquedos, para serem mesmo peças divertidas para ela. Dica: objetos e livros com formas e texturas diferentes (pelúcia, borracha, plástico, papel colorido, papel preto e branco, etc…) para estimular a criatividade e os sentidos. Uma dica útil: se a criança ficar muito excitada para dormir com a presença de brinquedos no quarto, guarde-os em lugar que ela não possa ver. No nosso caso, todos os dias eu “monto e desmonto” esse cantinho, senão Mirela mesmo na escuridão na hora de dormir, fica pedindo os brinquedos, rsrsrsrsrsrsrsrs
2) Uma bolsinha divertida com cartões fidelidade, ou cartões velhos, servem para dar independência e tirar o foco do seu cartão de crédito de verdade – inventei isso porque sempre que precisava pedir algo em delivery, Mirela queria meu cartão de crédito; com a bolsinha, digo a ela: “filha está aqui o seu!” vá na farmácia comprar seu remédio!” e ela acha o máximo. Além disso, uso a bolsa para ela guardar outras coisas, como papéis de propaganda. Ah, os cartões também uso para ensinar quantidades: “filha, só tem dois cartões aqui, onde estão os outros dois?”
3) Eu idealizei e papai Ju executou. Se você tem espaço em casa, vale a pena criar um cantinho lúdico como este: colorido e cheio de possibilidades (casinha, mesa, cadeiras, bolas, tapetes coloridos, brinquedos de diversos tipos, livros, quadro magnético para ímãs de papel – manta magnética). Eu procuro revesar os brinquedos sempre que possível, para não parecer que tem os brinquedos de dentro de casa e os de fora de casa…
4) Procuro dar importância à leitura e estimular Mirela a ler. Para isso, criei o “cantinho da leitura”, um tapetinho daqueles que a gente usa para bebês miúdos serve agora de aconchego para Mirela e seus “amigos” lerem seus livrinhos… Aqui, o Doki está sugestivamente sentado e “lendo” seu livrinho preferido…
5) Depois que Mirela descobriu este espaço em seu guarda roupas, não parou mais de brincar aqui. Claro que este espaço vazio tem a sua utilidade quando Mirela não está lá dentro. Mas, quando ela quer brincar lá, tem que tirar tudo e deixar. Aí, ela leva o que quer pra lá…Detalhe para o antigo trocador do enxoval, que foi reaproveitado como “aparador” de tombos ou almofadinha para sentar e brincar.
Bem, agora deixa eu ir arrumar “nossos” brinquedos, porque amanhã a brincadeira continua! E o que será que vamos inventar???
O máximo!
Amei todos os cantinhos que vcs com tanto carinho planejaram para a doce Mirela!
Confesso que ao ler seu post, minha concepção sobre a hora das brincadeiras mudou um pouco..não sou assim tão fã de brinquedos, pois sempre achei que Alice dava pouca importância, se importando só no momento e depois nem tchum e também preferindo os brinquedos que eu invento do que aqueles caríssimos das lojas.
Ela nunca gostou do tapetinho e da cadeirinha do soninho por exemplo, dai me vinha na mente : “Por quê cargas d´água gastei tanto com isso?” E decidi que não ficaria dando brinquedos a ela..
Masssss…
As coisas mudaram!
De uns dois meses para cá Alice tem gostado especialmente de alguns brinquedos!
E EU TO ACHANDO O MÁXIMO!
Sento com ela, preparo “comidinha”, ela dá de comer pro papai, pra mamãe e para os bonecos e bonecas..
Ainda tenho problemas com os livros, pois eu amo ler e gostaria de incentivá-la, mas a única coisa que ela faz é rasgá-los..dai guardei!kkkk
Já preparei dois cantinhos aqui em casa com os brinquedos dela, mas agora quero fazer coisas diferente..vc me inspirou Tati!rs
Um super beijão para vc e a fofa Mirela!
Tati como sempre vc tem novidades e idéias ótimas para passar para nós. Confesso que eu nunca tinha parado para pensar nos brinquedos como alternativa de presentes… eu mesma sempre procuro dar roupas nos aniversários de crianças, porque de fato as mães preferem e eu também preferia até ler o seu post… rsrsrsrs… Brinquedos são caros e acabamos por cumprir nossa obrigação de vestir e calçar… Mas, peraí, se pensarmos bem faz parte da tarefa dos pais trabalhar o desenvolvimento pleno dos filhos também, e isso envolve o lúdico… hehehe… Hoje mesmo estou pensando em ir comprar uns brinquedinhos para a Rafaela!!!
Beijosssssssssssss
Ahhhhhhhhhhhhh… amei os cantinhos de Mirela… Preciso me virar para preparar pelo menos um cantinho para a Rafa, pois moramos num “apertamento”… rsrsrs
Suas são maravilhosas!! E o conceito sobre o brincar também…
Ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiii!!!!
Tudo muito lindo! Quanta criatividade e carinho, meus parabéns!
A gatinha deve adorar cada um deles né?
Tive umas idéias também, brigadaaaaaaa
Abraço]
P.S.: vou responder seu e-mail… Esqueci… xi
Oi Tati tudo bem? Resolvi reler esse post hoje, pois lembrei que ele mexeu muito comigo nao pelas propostas dos cantinhos nem pelo brincar, pois eu nom fundo ja sabia e pensava assim, mas pq na 1a. Vez que o li, enquanto lia tudo e imaginava os cenarios, pensava: “minha amiga Tati que tempo você ta arranjando para fazer tudo isso?”. Ai bateu uma reflexao braba que me perturba ate hoje. Maternidade x carreira. Tempo para meu filho. E tempo de qualidade de preferencia para conseguir chegar pertinho dessa proposta.
Sei que cada familia tem seu ritmo, prioridades, necessidades, padroes, cultura, dinamica, enfim, as criancas que nascem em cada familia vao se inserir no contexto que apresentarem a ela nao é mesmo?
Entao! Perguntei para mim: “o que tou ensinando a Pedro?”
Eu me cobro, descobri que sou perfeccionista e o lado negativo de ser perfeccionista. Bom, para resumir só sei que perfeccionismo gostam de acertar em tudo e fazer tudo perfeito e qdo uma mae resolve trabalhar ela está desafiando seu perfeccionismo. Sei que o foco é ver nosso filho feliz e para isso nao ha medidas de esforco. Entao vamos que vamos na busca de conciliar tudo ou renunciar.
Acho que você nem imaginava tanta analise nao era? Mas resolvi compartilhar com você.
Obrigada pelas dicas sempre inteligentes e criativas.
Beijos
Esse é o post que eu mais gosto no seu n o li no período que vc o escreveu, mas sempre volto a ele, acho lindo sua dedicação, seu investimento na vida da sua filhinha! Não canso de dizer: é muito inspirador!!!